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Reflexão sobre o Evangelho – 27º Domingo do Tempo Comum – Lucas 17, 5-10

“Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5)

O pedido dos discípulos a Jesus é, ao mesmo tempo, simples e grandioso: “Aumenta a nossa fé!”. Não pedem mais milagres, nem mais poder, mas algo essencial — a fé. Reconhecem, implicitamente, sua pequenez diante do mistério de Deus e a necessidade de um dom que ultrapassa suas forças humanas.

Jesus responde com uma imagem surpreendente: mesmo uma fé minúscula, como um grão de mostarda, é capaz de realizar o impossível. A metáfora não exalta a quantidade da fé, mas a sua autenticidade. A fé, ainda que pequena, quando enraizada em Deus, torna-se fecunda, transformadora, capaz de mover o que parecia inabalável. Como nos recorda São Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).

Em seguida, o Evangelho apresenta a parábola do servo. Nela, Jesus nos convida a compreender a fé não como instrumento de barganha com Deus, mas como atitude humilde de quem se reconhece servidor. Não somos senhores do Reino; somos colaboradores da graça. A expressão “servos inúteis” não diminui a dignidade humana, mas recorda que tudo é dom: a vida, os talentos, as oportunidades, até mesmo a fé que pedimos.

Santo Agostinho dizia: “Quando Deus coroa os nossos méritos, coroa nada mais do que os seus dons”. Essa consciência liberta: a fé não é conquista orgulhosa, mas resposta confiante ao amor gratuito de Deus.

Há aqui uma provocação para nosso tempo: vivemos em uma sociedade de performance, de métricas, de recompensas. Naturalmente, tendemos a medir também nossa vida espiritual em termos de resultados visíveis. Mas o Evangelho recorda: a fé não se mede por números, mas pela fidelidade humilde. Não é espetáculo, é serviço.

O pedido dos discípulos continua atual: também nós precisamos suplicar todos os dias: “Senhor, aumenta a nossa fé!”. Uma fé que não se acomoda no mínimo, mas que busca crescer, enraizar-se, florescer. Uma fé que não depende de aplausos, mas que se traduz em pequenos gestos de amor, em perseverança na oração, em fidelidade nas provações.

No fundo, Jesus nos convida a uma dupla conversão: crer com simplicidade e servir com humildade. O verdadeiro discípulo é aquele que, ao final do dia, reconhece: “Tudo o que fiz foi apenas corresponder à graça. O resto é obra de Deus”.

O grão de mostarda é pequeno, mas contém vida. Assim também a fé: quando lançada no coração humano, germina, cresce e se torna abrigo para muitos (cf. Mt 13,31-32). O que Deus nos pede não é grandeza visível, mas fidelidade humilde. E esta, por menor que pareça, tem força para mover montanhas e transplantar amoreiras.

Luiz Fernando Miguel

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