Iniciamos esta reflexão a partir de uma pergunta complexa e, ao mesmo tempo, que traz em si uma das possíveis respostas e chaves para a melhoria da educação no Brasil e as políticas que estão anexas a esse direito básico,
Primeiramente, cabe refletirmos sobre qual o grau de consciência que temos da nossa participação na elaboração, discussão, planejamento e implementação das Políticas Públicas educacionais. Justamente porque esse é o ponto crucial da discussão aqui levantada: para contribuirmos, precisamos primeiro averiguar se temos a noção de como funciona o processo citado.
Para iluminar seguem algumas perguntas: sabemos como são aplicados os recursos destinados à educação em nosso País, Estados e Municípios? Conhecemos a realidade educacional da nossa região? E da nossa cidade? Qual o nosso grau de envolvimento na vida social? Sabemos quais são os direitos fundamentais dos cidadãos quando o assunto é a educação?
A partir dessas questões podemos levantar uma série de argumentos que, primeiro, corroboram com a necessidade de mais envolvimento na vida política e social e segundo, nos darão a certeza de que o conhecimento e informação são as grandes “armas” da sociedade para transformarem a realidade.
Conhecimento das reais necessidades e situações pelas quais a educação está passando em nossas realidades. Isso é fundamental, pois só podemos modificar ou propor algo para aquilo que conhecemos. Esse conhecimento é propiciado hoje pela internet, com consulta a bons sites de notícia, aos portais dos municípios – muitas vezes confusos quanto a exposição de dados, mas que pelo menos lá estão -, a possibilidade de contato com dados e questões que antes da Lei de Acesso a informação talvez não seria possível.
Informação para sabermos como lidar com o conhecimento e o que fazer com ele. Precisamos saber sim, e mais do que isso, precisamos saber o que fazer com aquilo que sabemos. Isso também pode ser chamado de apuração, filtro e conexão com o que realmente faz parte da nossa realidade e o que é apenas mera especulação.
O bom conhecimento e a informação embasada nos trarão uma sociedade cada vez mais consciente do seu papel perante os entes governamentais e as suas possibilidades de ação no Estado Democrático de Direito. Como garantir o funcionamento das instituições democráticas e ter a certeza de que esse funcionamento estará empenhado em propor políticas públicas justas e igualitárias para a educação? Simples: Acompanhando, fiscalizando e denunciando – quando necessário -, a má utilização ou a não utilização de recursos, as condições de uso dos espaços destinados ao exercício da educação, a formação continuada dos docentes, as condições de alimentação dos estudantes e muitos outros fatores.
É papel de cada cidadão acompanhar a educação e as políticas públicas destinadas a essa área. Primeiro, porque a educação é a base de tudo (mesmo que essa frase pareça clichê); segundo, é uma das áreas que fica com uma parte do orçamento no município (no mínimo 25% da aplicação); terceiro – e mais importante -, citando a célebre frase de Paulo Freire: “A educação transforma pessoas, pessoas transformam o mundo.” E esse mundo começa na própria cidade, nos bairros, nas ruas e famílias. Se tivermos a consciência do enorme poder que a educação tem, com certeza daremos mais valor tanto aos profissionais que nela trabalham, quanto ao próprio agir educativo em si, que contempla tanto as estruturas físicas, quanto o próprio aparato da educação: material didático, metodologias, propostas e projetos executados.
Como fazer errado nós já sabemos, porque conhecemos todos os dias, seja por meios noticiosos ou pelas práticas, experiências que não foram bem elaboradas, deixaram de lado o planejamento e tiveram como fim iminente o fracasso. Nada é perdido quando se trata de educação, mas ao mesmo tempo tudo é perdido.
Nada é perdido porque de tudo aquilo que é feito com amor – diga-se de passagem, isso os educadores têm de sobra -, sempre se pode tirar algo de bom. Se a experiência não deu certo da primeira vez, há que se tentar de novo, e de novo, até que se encaminhe a uma experiência de sucesso.
Tudo é perdido porque estamos falando de ser humano. Esse ser complexo é repleto de frustrações quando se depara com algo que não sai de acordo com o que era imaginado. Tais frustrações muitas vezes são provocadas pela falta de apoio e incentivo de gestores ou mesmo das famílias (aqui entra outro ponto complexo e importante, mas sobre o qual deixaremos em aberto para posteriores reflexões).
Um dos grandes “pecados” dos gestores públicos é acabarem com políticas públicas de governo que poderiam se converter em políticas públicas de estado, justamente por estarem “atreladas” a determinados governantes. Isso faz mal para a Democracia. Isso assassina o direito à educação. Podemos trazer como exemplo a seguinte situação: determinado projeto é elaborado pelo governo “X” e dá muito certo. Todo o processo: planejamento, implementação e avaliação constatam que ele foi muito bom para as pessoas. Sai o governo “X” e entra o governo “Y”. A primeira coisa que “Y” faz é “apagar” tudo aquilo que faz menção ou que traz lembranças de “X”. Quem tem algo a perder nessa situação? Toda a sociedade! Isso porque os mesquinhos e hipócritas interesses político-partidários falaram mais alto que a necessidade da população. O “eu” falou mais alto que o “nós”. Bom, mas isso não acontece no Brasil, não é mesmo?! (risos)
Em síntese, a educação é uma área muito delicada, que precisa de pessoas que trabalhem com boa gestão e que, ao mesmo tempo, tenham sensibilidade às necessidades das pessoas e de tudo aquilo que o ser humano precisa para um bom e completo processo educativo: atenção, paciência e respeito. Temos excelentes e competentes educadores-gestores com essas características Brasil afora. Se acabam escolhendo os desatentos, impacientes e desrespeitosos, quem perde é o País, o Estado e o município. Pior que isso: quem perde somos todos nós e aqueles que ainda virão. A boa educação tem o poder de transformar. A má educação é como um campo minado, vai explodindo aos poucos e destruindo aquilo que fora construído com dedicação e carinho.
Luiz Fernando Miguel – Professor de Filosofia, Educomunicador e Jornalista
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