Tive a honra de entrevistar o Boechat em 2016, num bate-papo descontraído. O vídeo está aqui: https://youtu.be/UdxfFNM-fMU
Sobre o encontro com Boechat:
Quando a gente olha “de fora” parece que as pessoas são intocáveis, inatingíveis ou algo do tipo…
Com o Ricardo Boechat não foi assim.
Num dia 9 de setembro estava eu chegando ao prédio da Band em São Paulo. Tudo por conta de um e-mail que enviei pedindo a ele que gravasse uma entrevista comigo para um evento da Faculdade de Jornalismo. Pensei que a resposta demoraria, ou simplesmente não viria. No dia seguinte ao envio, chega a resposta: “Ligue neste número ****** em qualquer dia de segunda a sexta, entre 17h30 e 18h para combinarmos a gravação. Abc Boechat”.
Liguei no número indicado, às 17h45 de um dia que não me recordo, no mês de agosto de 2016. E a voz um pouco cansada me atendeu: “Boechat, boa tarde!”
Expliquei a situação e ele mais do que prontamente me disse: “Quando você pode vir para gravarmos então?”
Organizei meus horários e como já iria a São Paulo participar de um evento no mês seguinte, lá fui eu… Era o dia 9 de setembro de 2016. Cheguei no prédio da Bandeirantes, me identifiquei, logo me encaminharam para o Departamento de Jornalismo. Ali, a produção de jornalismo me pediu que aguardasse um instante. Não demorou muito para que Ricardo Boechat chegasse.
Ele mesmo foi até a sala em que eu aguardava para me chamar. Eram 17h25, ele deveria entrar no ar logo mais no “Jornal da Band”.
Pois bem, pediu que eu arrumasse a câmera, microfone, etc… enquanto isso leria as cartas e e-mails que se apresentavam como “mais urgentes” e que estavam em cima da mesa.
Terminei de organizar as coisas, ali sentado ao lado da mesa do jornalista. De repente ele me interpela: “Olha só meu amigo, essa história, recebi uma carta de um senhor, de 70 anos, que está à procura de um emprego e quer muito a minha ajuda. Vou mandar esse aqui pra um amigo meu, quem sabe surge uma possibilidade”. E continuou, abrindo algumas cartas e comentando alguns conteúdos que achava pertinente e que não fugiam à privacidade.
Trocamos ali uma boa conversa, ele perguntou um pouco sobre mim. Falei um pouco de minha história e de tudo que sonhava por meio do Jornalismo.
Ele partilhou comigo por alguns minutos antes de iniciarmos a gravação. Enfim, lembro de tudo isso de maneira muito viva. Aquele encontro ainda “grita” dentro de mim.
Ricardo Boechat tinha seus defeitos. (Quem não tem?)
Cometeu erros em sua vida e em sua profissão. (Quem não cometeu?)
Em algum momento se equivocou com algum ou outro posicionamento. (Todo mundo faz isso.)
De uma coisa eu tenho certeza: ele era inteiro no que fazia. Teve a capacidade de olhar pra sua história e perceber que seus erros não o fizeram pior que ninguém, só provaram o que muita gente se esquece: somos todos pessoas, sujeitas a errar.
O legado que Boechat nos deixa é repleto de muita alegria e descontração. Na última oportunidade que tive de escrever um e-mail a ele (há menos de uma semana) – Sim, Ele respondia! – tive a oportunidade de dizer o quanto o admirava como profissional e ser humano.
Agora fica a saudade para aqueles que conviveram mais de perto com ele, com aqueles que o ouviam, assistiam, enfim, para aqueles que admiravam sua trajetória. Obrigado, Boechat!
Você provou pra mim que uma câmera e um microfone não nos fazem melhores que ninguém, pelo contrário, esses instrumentos nos impõem a missão de sermos voz dos “sem voz” e defensores dos que sofrem as mazelas de uma política corrupta, malvada e que rouba do pobre, sem pudor e faz do nosso país vergonha internacional.
Obrigado Boechat, seu jeito de ser humano me ensinou a ser comunicador. Seu modo de ser jornalista me ensina a ser mais gente. Muito obrigado, Ricardo Boechat!
Do jovem jornalista e admirador,
Luiz Fernando Miguel