Falar sobre a vida nunca é simples. Mais do que um conceito biológico, ela é um mistério, um dom e, ao mesmo tempo, um desafio. No contexto do Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, somos chamados a refletir sobre o sentido da existência, a fragilidade humana e a urgência de redescobrir a esperança.
O filósofo existencialista Albert Camus afirmava que a grande questão filosófica de nosso tempo era o suicídio: decidir se a vida merece ou não ser vivida. Essa provocação, longe de incentivar o pessimismo, revela o drama da condição humana: em algum momento, todos nos perguntamos sobre o “para quê” da vida. A ausência de resposta pode gerar vazio; a descoberta de um sentido, no entanto, transforma tudo.
Outro filósofo, Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, ensinava que a vida nunca perde o sentido, mesmo diante do sofrimento. Em sua obra Em busca de sentido, ele afirma que o ser humano pode suportar qualquer dor, desde que encontre um “porquê” para viver. O sentido não é inventado, mas descoberto, muitas vezes nas situações mais difíceis.
A tradição cristã também nos convida a olhar a vida como dom. Santo Agostinho dizia que o coração humano permanece inquieto até repousar em Deus. Essa inquietação não é sinal de fraqueza, mas de grandeza: somos feitos para algo maior, para uma plenitude que nenhuma realização passageira pode saciar. Quando perdemos essa referência, facilmente nos sentimos perdidos, como náufragos em meio ao mar da existência.
O Setembro Amarelo não é apenas uma campanha de conscientização, mas um grito coletivo que lembra: ninguém precisa carregar sozinho suas dores. Falar, pedir ajuda, estender a mão — esses gestos simples podem salvar vidas. Talvez nossa maior missão seja justamente essa: sermos presença para o outro, oferecendo escuta e acolhida.
Em uma sociedade marcada pelo imediatismo e pela exposição excessiva, precisamos reaprender a valorizar o essencial. A vida não se mede por números, conquistas ou curtidas. Ela se mede pela capacidade de amar e ser amado, de criar laços, de deixar marcas de bondade no mundo.
O sentido da vida não está em eliminar a dor, mas em descobrir que até ela pode ser transformada em caminho de crescimento e comunhão. É nesse ponto que fé, filosofia e humanidade se encontram: na certeza de que viver, apesar de tudo, ainda vale a pena.
Neste Setembro Amarelo, façamos do nosso silêncio uma escuta, das nossas palavras um consolo e da nossa presença um sinal de esperança. Porque cada vida importa, cada história tem valor, e cada pessoa carrega em si um infinito que jamais pode ser banalizado.