Saber silenciar e ouvir: a arte da “escutatória”
Vivemos na “era da tecnologia”, das inovações, das mudanças constantes no campo da ciência. Somos interpelados por milhões de informações por todos os lados; podemos dizer – com todas as letras – que somos bombardeados pela dita “pós-modernidade”. A tecnologia e as inovações estão relacionadas principalmente com o audiovisual, com a imagem, o vídeo… Em outras palavras, com coisas que são opostas ao verbo “silenciar”…
Fazer silêncio vai muito além do simples “não pronunciar palavras”; silenciar por silenciar é em vão. Devemos ser capazes de ouvir o que o outro que está a nossa volta tem a nos dizer. Aí que está o grande risco, pois acabamos por nos acostumar a relações superficiais (não quero citar o exemplo das Redes sociais, principalmente por que sou um usuário dessas rs); não há mais contato com a PESSOA; se você quer conversar com alguém entre no chat do face, ou no messenger, ou envie um SMS. Nisto consiste esse grande risco a que nos referimos: trocar as relações humanas por relações meramente “tecnológicas”. Não vamos entrar no mérito da questão, pois a internet – especialmente as redes sociais – tem aproximado muitas pessoas. Porém, outro grande risco é “aproximar quem está longe e distanciar quem está perto”.
Em meio a tudo isso: qual seria, de fato, a importância do silêncio? Somos seres de comunicação, de diálogo… Hummm.. Diálogo… Dialogar envolve duas ações: falar e escutar. Falar exige bom-senso, educação e, acima de tudo, respeito. Escutar exige tudo isso e mais um pouco. Escutar falando é praticamente inadmissível, pois só ouve bem aquele que silencia.
No silêncio, além de escutar o outro vamos nos abrir a um processo de encontro conosco mesmo e nos deparar com o mais íntimo de nosso ser. Somente com a abertura a esse processo de busca do “si mesmo” poderemos entrar em um estado constante de crescimento. Tudo isso possibilitado pelo ato de “silenciar”.
Que saibamos ouvir mais. Parar mais e refletir mais sobre o que está à nossa volta. Como diz Rubem Alves, que saibamos praticar mais a “arte da escutatória”.
Paz e bem a todos!
Luiz Fernando Miguel
Postado originalmente na Coluna “Vida”, no dinoite.com.br – Mês de Maio de 2012